sexta-feira, 7 de março de 2014

Descendência


Para aqueles que gostam de genealogia, postamos um texto sobre D. Joaquina do Pompéu, de quem nosso escritor Agripa Vasconcelos é descendente. O texto foi escrito por Hugo de Castro, Coordenador do Centro Cultural D. Joaquina do Pompéu, em Pompéu/MG.
 
 
Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco (Oliveira Campos) nasceu em Mariana-MG, aos 20 de agosto de 1752. Era filha de Dr. Jorge de Abreu Castello Branco - que mais tarde, após se tornar viúvo finalizou seus estudos eclesiásticos e ordenou-se padre -  natural da cidade de Viseu, Portugal, e Dona Jacinta Tereza da Silva, nascida na Ilha do Faial.

Em 1763, Pe. Dr. Jorge de Abreu Castelo Branco muda-se com a família para a cidade de Pitangui, onde Joaquina conhece Cap. Inácio de Oliveira Campos, com quem viria a se casar no ano seguinte, ela com apenas 12 anos de idade, e ao lado de quem construiria um dos maiores legados para a história de Minas Gerais e do Brasil

Capitão Inácio de Oliveira Campos era descendente de grada família paulista, filho de Inácio de Oliveira e Ana Campos Monteiro. Vale ressaltar que era neto do grande Bandeirante que desbravara o sertão de Pitangui, Antônio Rodrigues Velho, também conhecido como Velho da Taipa.

Após o casamento, mudaram-se para a fazenda de Nossa Senhora da Conceição, que pertencera a Antônio Pompeu Taques. A sede da fazenda era precária, sendo necessário construir uma nova residência para o casal. Os trabalhos de construção do Sobrado do Pompéu iniciaram-se no final do séc. XVIII, tendo como construtor o mestre-carapina Tomé Dias. O solar era a sede de um feudo com cerca de 1 milhão de alqueires, estendiam-se de Pará de Minas a Pitangui e Pompeu, tendo outra grande fazenda em Paracatu.

Dona Joaquina floresceu seu instinto empreendedor após a doença do marido - Cap. Inácio ficara paralítico em uma de suas viagens ao sertão do Paracatu - tendo que assumir a liderança da fazenda do Pompéu, organizando os vários currais espalhados pelo sertão das Minas Gerais e implementando assim a criação do gado de corte. Segundo o historiador Marcus Flavio;
                                        

 ...em 1825, ano em que foi feito inventário dessa rica fazendeira, contavam com cerca de 43.560 cabeças de gado. Essa enorme boiada não encontrava saída apenas nos mercados das Minas, dirigindo-se para o Rio de Janeiro, e talvez, até mesmo para outras regiões do Brasil.


Esta menção dá uma ideia do pioneirismo de Dona Joaquina, o que foi reconhecido em sua época pelas autoridades reais, pois ela solidificou seu nome após fazer doações de mantimentos para abastecer a corte faminta recém chegada de Portugal em 1808. Estas doações foram bem recebidas pelo Príncipe Regente Dom João(futuro Dom João VI) e isto ajudou em sua imagem comercial, firmando assim comércio no Rio de Janeiro para a venda do gado e possivelmente de outros mantimentos provindos do Pompéu.

Recebeu uma expedição chefiada pelo Barão Von Eschwege - diretor do Real Gabinete de Mineralogia do Rio de Janeiro - e Freyreiss, respectivamente em 1811 e 1813. Ficaram hospedados no solar do Pompéu e, ao retornarem à Corte, o Barão de Eschwege dedicou seu livro Pluto Brasiliensis à Matriarca de Pompéu e sua família. Barão Von Eschwege foi uma grande autoridade em assuntos da mineralogia brasileira, já então em queda naquela época, tendo sido mentor de Goethe em seus estudos. Transcreve-se um trecho da obra, traduzida por Dr. Domício de Figueredo Murta, no volume 2°, pag. 280 e 281:

  ...de Pitangui em diante viajamos por améns campos, banhados por numerosas lagoinhas, onde ao lado de uma jiboia, milhares de aves palustres aquáticas, grandes e pequenas ostentam a sua deslumbrante plumagem... Chegamos assim à fazenda do Pompéu que possui uma superfície de 150 léguas quadradas pelo menos. Ela é habitada unicamente pela proprietária deste principado, Dona Joaquina Bernarda, cujos súditos são as 40.000 cabeças de gado...

Fez também grandes doações por ocasião da iminente guerra da Independência em 1822, tendo doado mais uma vez gado para o abastecimento das tropas. Segundo Agripa Vasconcelos, o patriotismo de Dona Joaquina era tão grande que durante o período em que se tratava da independência do Brasil de Portugal, ela usava em sua roupa fitas na cor verde-e-amarelo representando seu amor ao Brasil. Esteve com o Príncipe Dom Pedro na então capital da capitania, Vila Rica de Ouro Preto, quando de sua vinda a Minas Gerais. Segundo relatos da época, uma grande comitiva com mais de 10 mulas chegou a Vila Rica. Parecia até o cortejo de um bispo.

Foi uma grande senhora para sua época, das lendas que existem pouco se pode aproveitar. Ao analisar a lógica da época e os documentos que existem, percebe-se que era uma boa mãe, uma boa sinhá, enfim, uma grande matriarca a frente de seu tempo. Um exemplo simples e de conhecimento geral, mas que as pessoas nem sempre tem ciência é o fato de Dona Joaquina ter mandado construir um cemitério Cristão para sepultar seus escravos, o que era inédito, pois estes cativos, na maioria das vezes, eram tratados como animais, mas na fazenda do Pompéu eram tidos como Cristãos, e quando faleciam tinham direito a missas e a uma sepultura digna. Ou seja, todas as honras de um branco da época.

Dona Joaquina teve 10 filhos:
1°- Anna Jacinta de Oliveira Campos, casou-se com Thimóteo Gomes Valadares;
2°- Félix de Oliveira Campos, casou-se com Eufrásia Maria da Silva;
3°- Maria Joaquina de Oliveira Campos, casou-se com Cap. Luiz Joaquim de Souza Machado (de quem descende o autor e Agripa Vasconcelos)
4°- Jorge de Oliveira Campos, casou-se com Antônia Maria de Jesus;
5°- Joaquina de Oliveira Campos, casou-se com Antônio Álvares da Silva;
6°- Isabel Jacinta de Oliveira Campos, casou-se com Martinho Álvares da Silva;
7°- Inácio de Oliveira Campos, casou-se com Bárbara Umbelina de Sá e Castro;
8°- Anna Joaquina de Oliveira Campos, casou-se com João Cordeiro Valadares;
9°- Antônia Jacinta de Oliveira Campos, casou-se com Joaquim Cordeiro Valadares;
10°- Cap. Joaquim Antônio de Oliveira Campos, casou-se em primeiras núpcias com Claudina Cândida Lataliza França. Casou-se pela segunda vez com sua sobrinha Anna de Campos Cordeiro, filha de sua irmã Dona Antônia.

Destes filhos citados nasceu uma vasta descendência, composta por 87 netos, 333 bisnetos, 1108 trinetos, que originaram algumas famílias influentes como Castelo Branco, Lopes Cançado, Guimarães, Abreu e Silva, Cunha Pereira, Álvares da Silva, Machado(Souza Machado, Castro Machado, Serra Machado), Cordeiro, Valadares, Maciel, Oliveira Campos, Pinto Ribeiro, Adjuto, Sigaud, Vasconcelos, Capanema, Mascarenhas, Melo Franco, dentre outras. Desta prole nasceram grandes autoridades políticas, militares, religiosas; Benedito Valadares (governador de Minas Gerais), Afonso Arinos de Mello Franco(Ministro, embaixador e político), Ovídio de Abreu(deputado), Simão Viana da Cunha Pereira(deputado), Francisco Campos(ministro da Justiça e jurista), Dom Geraldo Proença Sigaud(Arcebispo de Diamantina), Paulo Campos Guimarães(Deputado, diretor da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais), Agripa Vasconcelos (médico, escritor e romancista), Dr. Carlos Eloy Carvalho Guimarães, Dr. José Afonso da Silva(Jurista), Padre Marcelo Rossi, Paula Fernandes, Dr. Valério de Oliveira Mazzuoli, dentre outros vários nomes que ilustram nossa História em vários cenários de atuação.

Dona Joaquina faleceu aos 72 anos de idade, no dia 7 de dezembro de 1824, na fazenda Nossa Senhora da Conceição do Pompeo e foi sepultada na capela do cemitério da mesma fazenda.

São poucas as mulheres que lutaram pelo Brasil e ajudaram em sua construção. Dona Joaquina é uma destas mulheres que marcaram seu tempo com suas histórias e mitos, não esquecendo sua importância e pioneirismo em relação às lutas de igualdade feminista para com os homens, sendo que tudo isso se passou no final do século XVIII e início do século XIX. Hoje, com toda a certeza, pode-se afirmar que foi uma das construtoras do Brasil, e por este motivo é necessário que se resgate sua memória e seu projeto de engrandecimento de Pompéu e de todo o Centro-Oeste mineiro.