quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Relato

 
    Prezados leitores do blog Agripa Vasconcelos

    Há um ano elaborei o projeto de pós-doutorado para ser realizado na Universidade Federal do Paraná UFPR, Curitiba, tendo como tema o estudo dos romances históricos de Agripa Vasconcelos. Meu projeto foi aceito e comecei a desenvolvê-lo sob a supervisão da professora Dra. Marilene Weinhardt, uma das maiores autoridades em romance histórico no Brasil.

     Hoje, depois de quase concluído o estudo, resolvi compartilhar com vocês algumas impressões de leitura em torno da obra do escritor. Em primeiro lugar, propus este trabalho, pois percebi ser pequena a parcela de estudos ou referências críticas sobre Agripa Vasconcelos e sua obra nas histórias literárias brasileiras. Essa lacuna, se assim posso chamar, levou-me a me debruçar sobre os romances, procurando compreender a proposta do escritor, bem como seu estilo narrativo. É lógico que apenas um ano para isso torna-se um tempo curto, uma vez que temos que procurar teorias que embasem e sustentem nosso trabalho, por isso ainda pretendo, mesmo terminando o pós-doc, escrever um pouco mais sobre Agripa e alguns de seus romances, apresentando em congressos ou similares.

     O que se percebe ao ler todos os sete romances que compõem “As Sagas do País das Gerais” é que o escritor, de forma cuidadosa, consegue montar um amplo painel histórico, social, cultural e econômico não apenas de Minas Gerais, mas também do próprio Brasil; nesse painel, integra-se um longo período da história nacional, que vai do século XVIII a meados do século XX.

     Em geral, esses romances, à exceção de Fome em Canaã e de Ouro Verde e Gado Negro, desenvolvem-se em torno de um personagem que sintetiza um ciclo; por exemplo, a figura emblemática de Chico-Rei sintetiza o ciclo da escravidão em Minas Gerais. Ao longo da história central do romance, são incluídas pequenas outras histórias das mais variadas fontes, cânticos negros ou sertanejos, quadrinhas, anedotas, pequenos trechos de outras obras da literatura e assim por diante. Tudo isso pode aparecer na voz do narrador ou na voz dos personagens, sejam eles principais ou secundários. Essa técnica empregada por Agripa Vasconcelos lembra um pouco aquilo que se vê em As Mil e uma Noites, embora nesta a tessitura seja mais complexa e emaranhada. Agripa opta por um tecido narrativo mais simples e linear, todavia elaborado; percebe-se em muitos dos trechos narrativos a habilidade do poeta, seja na construção das frases, na escolha da sonoridade ou na pintura das imagens que evoca.

    Particularmente (e isto pode ser bastante discutível), tenho preferência por três dos romances: Sinhá Braba, Chica-que-Manda e Gôngo-Soco. Penso que essas três obras constituem o ponto alto da produção do escritor, contudo falo isso voltado mais para um olhar individual sobre as obras. Se for levar em consideração o projeto do escritor que é o de compor a saga da história mineira, não há como destacar uma ou outra, pois os sete romances formam um conjunto coeso e sólido.

    Ao final deste relato só tenho a agradecer a oportunidade de poder ter conhecido a obra do escritor, como também a valiosa ajuda que o pessoal que administra o blog Agripa Vasconcelos me forneceu, mais especificamente a gentileza de Mara (uma das netas do escritor) que, sempre pronta e atenta, forneceu as informações de que eu precisava. Com certeza meu trabalho é apenas uma parcela pequena diante do estudo que o escritor requer. Meu estudo já rendeu um artigo publicado nos anais do XI Encontro Nacional de Literatura, História e Memória, promovido pela UNIOESTE – Cascavel PR, (neste artigo só falo de seis dos romances históricos, pois ainda não tinha lido Ouro Verde e Gado Negro) como também um capítulo de livro (este demorará provavelmente mais um ano para ser publicado) no qual realizo uma análise de Sinhá Braba.

    Um abraço cordial a todos os leitores, desejo ótimas leituras e descobertas...

    Prof. Dr. Maurício Cesar Menon

   (professor do departamento de Humanidades da UTFPR Campo Mourão PR)